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POR QUE ESCREVEMOS CARTAS?

Profa. Graziela Ninck

A escrita destas cartas compôs o trabalho de campo de uma pesquisa desenvolvida por Graziela Ninck Dias Menezes, professora do IFBA, e orientada por Jane Adriana Vasconcelos Pacheco Rios, sob título de Professores e Professoras do Sul: cartografias da profissão docente  em contextos de diversidade na Educação Profissional Técnica. Este trabalho buscou cartografar a profissão docente na Educação Profissional Técnica, a partir de experiências educativas com a diversidade. Inscrito no programa de pós-graduação em Educação e Contemporaneidade da Universidade do Estado da Bahia, se integra a uma pesquisa desenvolvida pelo grupo de pesquisa Docência, Narrativas e Diversidade na Educação Básica -DIVERSO, sobre a Profissão Docente na Educação Básica da Bahia.
A pesquisa que gerou estas cartas foi desenvolvida no Instituto Federal da Bahia, nos campi de Ilhéus e Valença. Para tanto, foi construída uma metodologia baseada nos princípios da Documentação Narrativa, trabalho fundado pelo Prof. Daniel Suárez da Universidade de Buenos Aires. Este trabalho, iniciado ainda no ano de 2000, se registra tanto no campo epistemológico como metodológico ligado às Epistemologias do Sul, pois propicia condições para que docentes, em trabalho por meio de redes de investigação-formação-ação, se legitimem e se autorizem a propagar suas experiências e saberes construídos como possibilidades de formação coletiva entre os pares.
Desse modo, inverte a lógica recorrente onde os docentes são convocados a seguir orientações exteriores de especialistas, que definem como os professores e professoras devem agir, sem compreender a realidade que circunscreve a vida-formação-profissão dos docentes. Assim, estabelece-se como uma política de conhecimento, pois institui saberes produzidos nas e pelas práticas docentes. Estes, mediados por um processo de reflexividade coletiva, alçam a condição de saberes construídos.
Em um processo de interação, reflexão e horizontalidade entre pesquisadora-professores/professoras, lançou-se mão das cartas pedagógicas como dispositivo de diálogo entre os docentes. Enquanto trocavam cartas, os/as docentes ao escreverem e aprofundarem suas experiências sobre práticas educativas com sujeitos da diversidade, revelaram como constituíram a docência e como produzem a profissão diante as questões/tensões da diversidade que emergem nos e entre os territórios existenciais das pessoas.
Dois professores e quatro professoras participaram ao longo de cinco meses desse processo de trocas de cartas. Ao final desse período, considerando as cartas escritas, foram convidados a elegerem uma experiência educativa com a diversidade, construída ao longo de suas trajetórias, que revelasse um saber constituído por estes/estas no trabalho com questões da diversidade. Dos seis participantes iniciais, quatro mulheres e um homem, aceitaram o desafio de elaborar um texto que foi publicado inicialmente aqui.
Para tanto, o grupo se constituiu em uma comunidade de investigação e, nessa rede, teceram comentários sobre os textos uns dos outros, instigando os pares a pensarem os sentidos do que estava sendo escrito. Após edição pedagógica feita por este coletivo, os textos ganharam formas finais que revelam para nós, saberes pedagógicos construídos pelos docentes na atuação com questões da diversidade.
Compartilhar estes saberes e colocá-los no debate público sobre educação, docência e diversidade é um dos propósitos dessas cartas. Como política de conhecimento, querem disputar a narrativa, o espaço, o conteúdo sobre o processo formativo docente. Nessa perspectiva, eles se colocam como textos abertos, dispostos à leitura e interlocução com outros docentes. Compreende-se, nesse processo os docentes como autores de suas práticas, autônomos para agir coletivamente e decidir, política e epistemologicamente, os caminhos do exercício profissional.

Por que escrevemos cartas?: Sobre
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